O significado expressivo das cores em fotografia.

 

O significado expressivo da cor representa uma série de percepções psicológicas para o espectador, já que a imagem, através de sua paleta de cores, mostra diferentes estados de espírito.

Mesmo em sua abstração, em preto e branco, o cérebro deve interpretar as informações não explícitas na imagem sobre a cor, criando representações sobre elas para completá-la.

As cores são agrupadas em duas categorias de tonalidades específicas: quentes e frias.

As cores possuem significados psicológicos e simbólicos que, juntamente com a expressividade da forma e da composição, são recursos muito valiosos para a transmissão de mensagens visuais. Esses códigos culturais são aprendidos ao longo de nossas vidas e determinam como associamos as cores a estados emocionais, que consideramos naturais, mas na realidade são aprendidos.

Michel Pastoureau, em sua obra “Breve História das Cores”, realizou uma profunda pesquisa antropológica sobre a história das cores e sua representação em nossa cultura.

 

Azul

Com a chegada da iconografia cristã, o azul foi realçado no Ocidente. “O azul foi divinizado e difundido não apenas em vitrais e obras de arte, mas também em toda a sociedade: já que a Virgem se veste de azul, o rei da França também o fará. Em três gerações, o azul se tornou uma moda aristocrática”.

A paleta protestante era composta por branco, preto, cinza, pardo e azul. Atualmente, quando alguém diz que gosta da cor azul, geralmente significa que é uma pessoa sensata, conservadora, que não deseja revelar muito sobre si mesma. Esse discurso moral, derivado da moral protestante europeia, também promove o uso de preto, cinza e azul nas vestimentas masculinas.

Esses conceitos ainda se aplicam hoje em dia, e nesse sentido, continuamos vivendo sob o regime moral da Reforma por meio dessas representações.

Atualmente, o azul é uma cor consensual tanto para pessoas quanto para organizações internacionais que desejam mostrar solidez e institucionalidade. A ONU, a UNESCO, o Conselho da Europa e a União Europeia escolheram o azul como emblema. É escolhido porque é uma cor que não causa impacto ou desgosto, gerando unanimidade. Por essa razão, também perdeu parte de sua força simbólica por estar mais associado à institucionalidade e ao burocrático.

 

Isso explica o sentido frio e distante associado ao azul, conectando-o aos céus, ao divino, à realeza e às instituições. O azul expressa calma e imobilidade, algo que permanece perpetuamente, assim como as instituições.

 

 

Vermelho

Trinta e cinco mil anos antes do nascimento de Cristo, a arte paleolítica já utilizava o vermelho, principalmente obtido da terra vermelha. Atualmente, o vermelho ainda é um símbolo de festividade, Natal, luxo e espetáculo. Teatros e óperas costumam ser decorados com vermelho. O vermelho também está associado ao erotismo e à paixão.

No entanto, o antigo simbolismo do vermelho perdurou, e vemos sinais de proibição como semáforos vermelhos, telefone vermelho, alerta vermelho, cartão vermelho. Tudo isso deriva da mesma história relacionada ao fogo e ao sangue, que representam a proibição e o tabu. O vermelho representa paixão, dinamismo, energia, o proibido e o erótico.

 

Branco

Em nosso vocabulário, o branco está associado à ausência, à falta. Uma página em branco (sem texto), uma noite em branco (sem sono), uma bala branca (sem pólvora), um cheque em branco (sem valor). Também dizemos “fiquei em branco” quando ficamos sem ideias ou sem algo para dizer. Essas expressões linguísticas refletem certas conotações do branco, mas em nosso imaginário, também o associamos espontaneamente à pureza e à inocência, já que algo que ainda não tem nada está em estado inicial ou de pureza. Assim, o branco representa limpeza, obsessão por ordem, estabilidade, asseio e imaculação.

 

Verde

É a cor da natureza, do natural, da esperança e do renascimento. Representa a juventude e o futuro. Desde a época de Maomé, qualquer lugar com vegetação verde era sinônimo de oásis, paraíso e vida. A cada ciclo anual, após o inverno, onde tudo morre, tudo reverdece novamente, lembrando o ciclo da vida e, portanto, a esperança.

 

Amarelo

O amarelo está associado à chegada do outono, ao pôr do sol e à queda das folhas, e à agonia da natureza.

Na Idade Média, o amarelo se tornou a cor do ostracismo, da loucura e da doença, sendo usado para marcar pessoas condenadas ou excluídas, como judeus, loucos ou condenados à morte. As casas afetadas por febres e pestes na Idade Média eram marcadas com essa cor, lembremos da febre amarela ou do palidez amarelada relacionada à doença. Até hoje, no campo teatral, os atores consideram de mau agouro vestir roupas amarelas no palco, e evita-se vestir bebês de amarelo para evitar doenças e maus presságios.

 

Preto

Representa os medos infantis, a escuridão e a morte. No entanto, também existe uma representação mais respeitável da cor preta associada à temperança, à humildade e à austeridade, que foi utilizada pelos monges e imposta pela Reforma.

Atualmente, conhecemos outro uso da cor preta, o preto da elegância. A Reforma declarou guerra às cores vivas e defendeu uma ética de austeridade e escuridão. O preto então se tornou uma cor da moda não apenas entre os eclesiásticos, mas também entre os príncipes. O elegante traje de gala preto tem suas raízes no preto principesco do Renascimento.

No Ocidente, associa-se o retorno dos falecidos à terra com o preto. O cristianismo cultivou esse símbolo e sempre relacionou o luto com a escuridão.

 

Conhecer as cores e seu efeito nas pessoas e na cultura é um elemento interessante ao criar um ambiente, compor e utilizar as cores em nossas fotografias como recurso expressivo.

Como fotógrafos, é fundamental conhecer a psicologia das cores para usá-la como recurso compositivo e artístico.

 

PS: Eu recomendo enfaticamente a obra “Breve História das Cores” (Paidós) do historiador e antropólogo francês Michel Pastoureau.

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